sexta-feira, 5 de março de 2010

o meu Benfica marselha de há 20 anos

o jornal a bola tem vindo a dar destaque e a apresenta-se com uma rubrica especial sobre o Benfica marselha, cuja primeira mão vai jogar-se para a semana.
isso traz-me à memória alguns dos grandes momentos que passei na segunda metade da década de 80 e primeiro terço da década de 90.
nessa altura, o meu Colégio, que fez há poucos dias 206 anos e que alguma comunicação social (será que isso ainda existe) tenta denegrir a todo o custo, tinha excelentes colaboradores.
já sei que o Becas me vai contradizer, mas, à cabeça, estava o Marinho.
eram curiosas as afinidades clubísticas dos empregados do refeitório que nos trataram por "senhor aluno" desde que o dia em que tomámos a nossa primeira refeição.
dos que me lembro os mais fervorosos lagartos eram o Carlos (de quem se dizia que tinha um caso com a Dona Teresa, facto nunca confirmado, apesar de sempre se dizer: "aquilo é que foi, Carlos!") e o Santos (de quem se dizia que tinha um caso com a Dona Águeda, facto nunca confirmado, apesar de sempre se dizer "aquilo é que foi, Santos!").
nessa altura, como agora, o sportém nada ganhava, mas nem isso arrefecia os grandes despiques futebolísticos que aquele refeitório presenciou. por seu turno, o Marinho era um daqueles, se é que é possível escalpelizar tanto adjectivo para quem se diz do Glorioso, fervorosos, indefectíveis, doentes, fanáticos e ferrenhos Benfiquistas que até bigode à Jorge Máximo ostentava. escusado será dizer que, alturas havia em que o Marinho e os dois adeptos do sportém nem se falavam, por mor das paixões clubísticas que tinham. coitados do Santos e do Carlos. nos oito anos que lá andei, nunca tiveram o prazer de ver o seu sportém ganhar, com excepção dos 7-1, no ano em que acabámos campeões, e de umas taças de honra da associação de lisboa que, amiúde, íam arrecadando contra as nossas reservas.
dos do porto acho que só havia o infelizmente falecido moreira que era mais dado aos vapores etílicos e tinha os dedos das mãos mais castanhos do que o soalho do quarto da minha casa, fruto de uma apetência para fumar maior do que a minha em dia de jogo da pré-época contra o carouge.
quando o Benfica ganhava - e nessa altura ganhava-se à grande - o Marinho chegava à segunda ou à quinta com um ar fanfarrão (quem o não tinha nessa altura?) e os pobres Santos e Carlos "amochavam". era também nesses dias que a corrida ao jornal "A Bola" - nas companhias ou na Biblioteca - era maior. claro está que as cores clubísticas dos alunos - ou não fossem eles os verdadeiros Meninos da Luz! - eram predominantemente encarnadas, salpicadas com algum azul - como o Becas e o Olhinhos - que perdia para os verdelhos, nessa altura ainda na linha da frente. mas, e o Becas sabe-o, nem por isso deixei de comemorar a vitória do porto na taça dos campeões como se fosse nossa. pena foi que os meninos do moreira (sd) tenham comemorado as vitórias do psv e do milan nas duas finais em que estivemos depois deles, e que tivesse deixado de achar piada a qualquer vitória, mesmo contra clubes da coreia do norte.
tudo isto vinha a propósito do Benfica marselha. nesse prélio estava eu a bordo da fragata sacadura cabral.
não que estivesse embarcado, mas porque a marinha - como a força aérea e o exército - tentava cativar-nos para uma vida castrense. por isso, todos os anos, um grupo de alunos era convidado para uma semana a bordo, onde fazíamos de tudo, desde estar ao leme, a ajudar na sala dos radares ou na cozinha. enfim, uma experiência única daqueles 8. por falar nesses 8, uma nota curiosa: 7 deles tinham o mesmo nome, Pedro. num dos dias, o aluno "Pedro" foi chamado pelos altifalantes (gosto desta palavra) à ponte alta. apareceram os 7 em fila. curiosamente, o único não Pedro, andava há três dias agarrado a um balde Fruto(s) dos balanços e das vagas que eram de facto grandiosas. pelo menos para nós. para os embarcados há muito - sobretudo a sargentagem que gostava de nos praxar - era só uma pequena amostra do que nos esperava.
era suposto irmos nessa semana para a Madeira. no entanto, um torpedo de um outro navio perdeu-se e os nossos planos foram por água a baixo (neste caso, a dentro) e passámos dias à procura do pobre coitado. quando me falam em submarinos para a marinha, lembro-me sempre de não termos - como não temos agora - um tuste para mandar cantar um cego e de andarmos à procura do pobre torpedo com draga-minas e tudo. fomos a sagres e a vila real de santo antónio - e foi um pau! - e, na quarta-feira europeia, estávamos atracados ao largo do bugio, em cascais.
eu tinha um transistor cor-de-laranja de uma marca qualquer emblemática em onda média (am) e já era fanático e ferrenho Benfiquista - o "já era" não quer dizer nada mais do que "desde que me conheço que o sou" - e como nunca mais desfaziamos os golos da primeira mão, fui para bombordo ouvir sozinho os últimos minutos do relato. acontece o célebre golo do vata - disse há poucos dias que foi com o peito, quem somos nós para o chamar de mentiroso como o moreira (rui) ou o tavares - e já com a companhia de alguns marinheiros, gritei de tal forma que, temo, ainda hoje, as paredes do farol do bugio têm rachas.
acabado o jogo, foi uma festa nunca antes vista a bordo. vários marinheiros, sargentos e outras patentes que usam divisas e não galões, ofereceram do seu bolso várias grades de minis sagres. um dos cozinheiros, de tão entusiasmado que estava, fez um pão com uma forma curiosa cujos pormenores dispenso contar.
20 anos depois, não vou estar embarcado. mesmo assim espero que o nosso Benfica chegue a bombordo contra o marselha mas, acima de tudo, contra o paços já no domingo.

4 comentários:

Anónimo disse...

repetição do embate dos idos anos 80/90. marselha e benfica então eram super potências da europa e hoje tentam recuperar o tempo perdido. perspectiva-se um jogo de altíssimo nível.
belas recordações colegiais estas....."aquilo é que foi!"

Becas

Anónimo disse...

Eu estive no Estádio da Luz nesse dia, atrás da baliza oposta à do golo do Vata, quase ao nível do relvado. Faltavam 4 minutos para os 90 e canto para o Benfica, lado esquerdo do ataque. Valdo preparou-se para marcar, o meu irmão agarrou-se às cuecas da sorte e o resto é história...

Abraço,

Nuno

33 disse...

Estás sempre convidado a embarcar no Zacatraz, nem precisas levar o transistor.

aquilo é que era...

olho portista disse...

Grande Bebes! Grande vitória!

A distância temporal mede-se pelo raio actual da barriga do Magnusson