depois disto, onde se destaca sem qualquer dúvida o adereço na cachimónia, e uma nota para o facto de se me tivessem feito mais alguma pergunta diria que com JJ ganharíamos por 4 a nuestros hermanos, eis que dois dos escribas aqui do estaminé resolvem abrir o livro, juntamente com mais um dos aventureiros, da aventura mundialista que experimentaram na áfrica do sul ao jornal ponto final, na sua edição de hoje. (para verem as fotos terão de assinar anualmente o prestigiado diário!)
"Há vuvuzelas em Macau
by pontofinalmacau
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Frederico Rato, Victor Castro e Pedro Cortés regressaram há dias do Mundial. Seguiram a selecção portuguesa, conheceram o país e até trouxeram vuvuzelas autênticas para a RAEM.
Hélder Beja
helderbeja.pontofinal@gmail.com
“Eles não paravam, mas eu levei os meus auscultadores”, anuncia Frederico Rato sobre o som das vuvuzelas e o modo que encontrou de escapar parcialmente à espécie de corneta sul-africana que invadiu os estádios do Mundial de futebol. As fotos que publicamos comprovam-no, e os que não paravam de “vuvuzelar”, verbo que pegou, eram milhares de adeptos a que se juntavam Victor Castro e Pedro Cortés, também advogados em Macau. “Tornava-se, além de ensurdecedor, um bocado irritante. Ou melhor, para quem estava a vuvuzelar não era, porque nem sequer nos apercebíamos. Para quem não estava, era desagradável”, ri-se Victor Castro. E também Cortés aponta as vuvuzelas como a imagem forte dos estádios sul-africanos. “A grande e maior diferença era aquele som, que não parava durante o jogo. Não que nós não tivéssemos participado activamente na vuvuzelada, e ainda trouxemos algumas”, admite.
Começamos pelo pormenor da vuvuzela nesta história de três adeptos que decidiram partir de Macau para seguir a equipa portuguesa no continente africano porque são esses, os detalhes, que enriquecem as experiências e as viagens. “Esta é a continuação de uma tradição que começou com o Mundial da Coreia do Sul. Ir a primeira vez produz habituação, de maneira que acabámos por nos tornar uns ‘frequent goers’, começámos a ir aos campeonatos da Europa também, fomos ao campeonato do Mundo na Alemanha e agora ao da África do Sul”, prossegue Frederico Rato. Pedro Cortés principiou ainda mais cedo, no França 98: “Vivia em Paris na altura e a partir daí fiquei com o bichinho de ir às competições todas. Gosto de futebol, sobretudo do Benfica, mas as partes culturais do campeonato do Mundo são até mais importantes que os jogos”.
Rota do futebol e dos vinhos
A viagem começou a 4 de Junho e, antes da África do Sul, o trio que reunimos à mesa em Macau esteve uma semana em Moçambique, recebendo a companhia de João Rato, filho de Frederico, vindo de Lisboa. “Seguimos basicamente o trajecto da selecção. Fomos para Port Elizabeth, depois para a Cidade do Cabo, para Durban e para a Cidade do Cabo novamente. Já não tive oportunidade, ou foi mais a felicidade, de não ter de assistir ao vivo à derrota de Portugal com a Espanha”, conta Victor Castro, que entretanto se separou dos companheiros de viagem para visitar família.
De carro alugado e nenhuns problemas de segurança, estes portugueses com bilhetes ‘Follow My Team’, que lhes permitiam avançar pelo país conforme Portugal desenvolvia na prova, aproveitaram para conhecer outras riquezas sul-africanas, como os vinhos. “Tal como tínhamos feito na Suíça, essa parte de conhecer neste caso os vinhos sul-africanos é aquela em que ponho mais valor. Claro que a interacção com pessoas de outras culturas é importante, mas aproveitar o facto de estarmos num outro país e perceber o que realmente lá se passa é a verdadeira expedição ao Mundial”, assegura Cortés.
A Garden Route, uma das viagens mais populares na África do Sul, feita na província de Western Cape e que tem como centro a Cidade do Cabo, foi o percurso escolhido pelos seguidores das Quinas. Perigos, nem vê-los. “Estávamos até demasiado sensibilizados para a questão da segurança, mas surpreendentemente tudo correu bem. Notava-se o controlo pelo número de polícias presentes, mas andámos na rua a qualquer hora, sem problemas. Acho que se esmeraram para criar boas condições de segurança”, considera Rato.
De carro, viajaram “uns milhares de quilómetros”. E, em tom de brincadeira, o advogado vai dizendo que o único problema de segurança rodoviária que enfrentaram foi a própria condução. “A determinada altura fazíamos doze provas de vinho por dia e, no fim, o carro já se atravessava”, brinca Rato.
Por onde passaram encontraram sempre “os portugueses da África do Sul muito envolvidos pelo facto de a selecção estar presente”, refere Victor Castro. “Não sei se muito crentes na equipa, mas pelo menos muito envolvidos. Foi bom para nós, porque a alegria era maior. Temos de facto muitos emigrantes e isso ajudou”, refere.
Para Castro, o Mundial foi também o regresso à África do Sul, onde tem família, e a Moçambique, onde nasceu. “No meu caso particular era um bocadinho mais sentimental, porque tenho amigos em Moçambique, família na África do Sul. Foi mais agradável do que se tivesse sido noutro sítio qualquer, isso sem dúvida.”
Antes e depois do jogo
Frederico Rato considera que “estas viagens têm duas grandes componentes”. Uma é a “lúdico-folclórica”, composta “pelo jogo em si e pela festa, que normalmente bate o futebol”. Para o adepto, “é extraordinário ver como é que as pessoas reagem, a facilidade de relacionamento que se estabelece de imediato”. A outra vertente “é a político-cultural, é ver como é que o país funciona e que tipo de atractivos tem, em relação à arte, à cultura”. O grupo fez “uma digressão cultural” na Cidade do Cabo, “provavelmente a cidade mais culta da África do Sul”, e ficou surpreendido com “o nível de criação cultural”.
Do ponto de vista da harmonia do país, Rato também veio bem impressionado. “Pensei que a integração ainda fosse incipiente. Ainda há diferenças… a classe rica é a classe branca e a classe pobre é a classe negra, só que já há a formação de uma pequena e média burguesia negras que vão ascendendo ao poder e matizando as instituições. Pensei que o processo estivesse mais atrasado mas não está, e o milagre chama-se Mandela e democracia”, atira.
A Cidade do Cabo foi mesmo a favorita de todos, apesar de, como lembra Frederico Rato, o Cabo da Boa Esperança se ter transformado em Cabo das Tormentas outra vez, no jogo com os espanhóis. Para falar de bola, prefere passar a palavra “aos especialistas” que o ladeiam. Pedro Cortés começa por dizer que a prestação dos seleccionados de Queiroz “foi natural e dentro das expectativas, se calhar até a superar um bocadinho”. “Achava que Portugal ia ficar logo na primeira fase, que não ia passar a Costa do Marfim, que tem realmente uma equipa boa. Depois acontece aquele resultado estranho que é ganhar 7-0 à Coreia do Norte e aí ficámos praticamente apurados”, continua.
O pior foi com Espanha, quando Carlos Queiroz “não teve uma boa leitura do jogo e no momento em que tira o Hugo Almeida e mete o Danny, acaba com a equipa”, considera. “Os jogadores sentiram que iam defender o resultado, ou que não iam jogar para ganhar. Espanha deu-nos baile de bola na segunda parte.”
Victor Castro achou sempre “que Portugal passaria a primeira fase”. Enquanto lembra que “não é vergonha perder com Espanha nos oitavos” e que “era um resultado expectável”, aponta o grande problema luso: “O que fica é a falta de ambição do treinador, alguns equívocos, e depois a parte final. O treinador esteve para mostrar serviço, as coisas não correram bem, principalmente porque Portugal não jogou bom futebol, e não se responsabiliza. Queiroz devia responsabilizar-se e demitir-se”.
O treinador de bancada está em todos nós e também Frederico Rato não se escusa a um comentário. Considera que “o treinador é um condutor de homens, e não conseguiu incutir um espírito vencedor àquele time”. “Ficou-se por aquele sentimento tão português de ‘ah, vamos para a fase seguinte e já não é mau’, é a felicidade na mediania. Essa falta de ambição é o defeito principal da equipa. Os romanos já diziam que a sorte protege os audazes, e nós não fomos audazes”, sentencia o advogado.
Durante as partidas, em “estádios com condições excelentes”, refere Cortés, as más exibições podiam compensar-se com a festa e umas quantas cervejas com álcool. “Essa é outra grande diferença para os estádios europeus”, nota. “É um pormenor interessante, porque não houve receio nenhum de se vender a cerveja com álcool. Ali, em garrafas de plástico, bebia-se sem perturbação e não houve um único incidente”, completa Frederico Rato. O único problema eram as filas para conseguir o precioso líquido, que obrigavam a perder parte dos jogos. “Eu diria até alguns golos”, brinca Victor Castro.
Quando soa o apito final e Portugal é eliminado da prova, a coisa muda de figura. “No dia da derrota é tentar ir mais rapidamente possível para fora daquilo. Já tínhamos marcado voo para o dia seguinte ao jogo, tal como em 2008. Mas a sensação que uma pessoa tem é ‘porque é que não marquei o voo para me ir embora ainda hoje?’”, diz Pedro Cortés. “Se tivesse pensado que Portugal ia perder tinha marcado um voo nocturno para estar imediatamente fora daquilo.” E Frederico Rato ajuda: “É como os espanhóis a fugirem de Aljubarrota”.
Se Portugal tivesse seguido em prova, Cortés e restantes aficionados provavelmente ainda por lá estariam. Nunca tiveram qualquer problema para alterar voos ou reservar hotel em cima da hora. Não estão, regressaram à RAEM, mas o advogado desdramatiza, assegurando que “não é uma tristeza assim muito grande” e que “o Benfica perder um jogo da pré-época é bem pior”.
De malas aviadas
Conhecer adeptos de todo o mundo e, por assim dizer, vê-los em acção, é apanágio deste tipo de provas. E aqui Pedro Cortés não tem dúvidas: “Os melhores adeptos continuam a ser os ingleses, aqueles que não param do princípio ao fim, que têm uma cultura diferente de ver a bola. Depois disso, acho que os portugueses não estiveram nada mal”. Frederico Rato prefere “tirar o chapéu” aos sul-africanos. “Dentro e fora do estádio, foram apoiantes de coração da sua equipa, houve uma união nacional surpreendente em função da equipa nacional. Os brancos das classes mais abastadas andavam de boné, de vuvuzela e com o revestimento dos espelhos retrovisores dos automóveis de luxo com bandeiras do país”. “Mesmo nos nossos jogos, os adeptos sempre estiveram presentes, os estádios cheios”, acrescenta Victor Castro, deixando ainda “uma nota de destaque” para o árbitro português Olegário Benquerença, “que tem estado muito bem, ao contrário do que toda a gente esperaria”.
Quanto a prognósticos, Castro – que desde que se estreou nestas andanças de campeonatos em 2008 nunca viu Portugal perder (falhou sempre os jogos da eliminação) – sabe que a grande candidata à vitória do Mundial 2010 é a Alemanha, mas está pelos holandeses. “Acho que a Alemanha é favorita, ainda que deseje que a Holanda ganhe o campeonato. Gostaria de uma final Alemanha-Holanda, e que a Holanda desta vez vingue a derrota de 1974″, quando perdeu por 2-1 no derradeiro jogo do torneio disputado em solo germânico.
Todos concordam quanto ao favoritismo da ‘Mannschaft’ e também em fazer valer a tradição de acompanhar próximos Mundiais e Europeus. “Já temos a mala preparada para a Polónia e Ucrânia [Euro 2012] e a seguir para o Brasil [Mundial 2014]“, anuncia Frederico Rato. “Em relação à Polónia e Ucrânia, o treinador vai ser o Manuel José”, diz com grande certeza. “E no Brasil vai ser o Fernando Santos.” Castro julga que não e que em 2014, na terra do samba, já será o esperado José Mourinho. “Até lá ele ganha tudo e dedica-se à selecção.” Com ou sem vuvuzelas por perto."
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